terça-feira, 19 de novembro de 2013

365 dias de consciência humana?

As professoras dizerem na sala de aula que "todos somos iguais" e não combater a situação, nunca me livrou de sofrer racismo.

Dia da consciência negra, sim! Sua consciência humana nunca me fez saber da existência de Solano Trindade na escola, nunca me fez aprender em uma aula que o negro resistiu, nunca me ensinou que princesa Isabel não era a redentora. Por falar nisso, por que o dia da Abolição não incomoda tanto quanto o dia da consciência negra? Será por que a personagem principal do acontecimento histórico era uma princesa branca? Sua consciência humana não fez os personagens históricos negros aparecerem no meu livro de história, sua consciência humana não tirou esse grupo da posição de subalternidade. Sua consciência humana não levou os negros recém saídos das casas grandes para o mercado de trabalho, não livrou os meus ancestrais de subirem para os morros por falta de opção, sua consciência humana não livra meninos pretos de serem mortos por estarem em um beco escuro, não livra qualquer negro de ser suspeito, não me livra de olharem estranho pro meu cabelo livre de processo químico.




 Sua consciência humana não livra os cotistas negros de ouvir de gente sem informação, sem conhecimento histórico dizer que cotas são ações racistas. Sua consciência humana não me livra, não me encanta, não me serve de nada. Sua consciência humana serve pra abafar o caso, pra não ver preto falando com propriedade sobre sua própria condição. Sua consciência humana serve pra alienar outros pretos que se negam a se reconhecer como tal, que não percebem que sua negritude os exclui de alguns espaços, que seus traços ainda são um empecilho. Sua consciência humana serve pra você, que fica incomodado quando você não é a estrela da festa. Sua consciência humana é por que você não quer reconhecer sua posição de privilegiado e é melhor desmobilizar do que unir forças, mesmo quando o assunto não é sobre você.
Eu quero que se lasque sua consciência humana. Eu quero dia do preto, dia pobre, do cigano,do favelado, do viado, da sapatão,da travesti e do nordestino. Quero dia de gente que ainda é invisível por uma sociedade que prefere não falar sobre o assunto, que prefere dizer que todos somos iguais pra não ter que olhar pros direitos de quem ainda não tem tantos direitos assim.

Sua consciência humana, me dá asco.


Bruna de Paula Pereira.

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