domingo, 30 de dezembro de 2012

Uma história que ninguém nunca contou.


Eu nem sei por onde começar, mas em 2010 eu comecei a usar trança, estilo nagô e me apaixonei... 



Depois disso, toda vez que eu tirava as tranças e fazia chapinha, eu não me sentia eu, eu me via como mais uma negra de cabelo alisado na multidão e foi aí que eu resolvi fazer permanente pra ter cabelos cacheados. 
Tinha dias que o cabelo permanentado cacheava bem, mas isso aconteceu pouquíssimas vezes.

Fazia, ele cacheava a base de muito amassamento com creme de pentear, aquela ainda não era eu, então voltava sempre pras tranças (que eu amo). 
Até que fui apresentada a um grupo do facebook chamado: Amigas Cacheadas pela minha amiga Hosana Netto, e fiquei esperando que lá eu fosse arrumar uma solução definitiva que iria cachear meus cabelos, química, chá, remédio ou macumba, algo iria me ajudar. Quando cheguei lá eu vi que era um grupo que incentivava a libertação das químicas transformadoras e aí que eu tomei a decisão de entrar em transição... Desde novembro eu vinha lutando contra as duas texturas que estavam no meu cabelo, a parte relaxada e a parte natural crescida pedindo pra viver. 
Aqui a raiz já tinha crescido e eu estava quase ficando com uma tendinite de tanto amassar a parte alisada


Desde então muita gente me questionou, se eu não iria mais usar químicas e eu estava decidida, tinha aprendido a cuidar e amar o meu cabelo crespo.
Diante de toda a caminhada eu percebi que isso não era uma decisão pessoal, era uma decisão política, tinha a ver com a falta de reconhecimento étnico, eu uso químicas desde os 6 anos de idade, não sabia como era meu cabelo natural, nunca me foi dada essa alternativa, como se eu usar o meu cabelo fosse algum tipo de crime.Ninguém nunca me disse que eu tinha esse direito, direito de ser eu mesma. Eu tive que passar por uma profunda fase de aceitação, aceitar que eu era crespa e aceitar que meu crespo é um 4C, daquele que tem cachinhos bem apertadinhos. Não foi uma luta fácil, mas hoje pela manhã eu senti necessidade de me livrar daquelas duas texturas, então fui ao salão e mandei tirar, tirar tudo. A cabeleireira estava decepcionada, mas aquela era minha decisão, eu senti medo,mas eu precisava fazer aquilo. Agora eu tenho um cabelo 100% natural, não sei até quando, mas hoje foi o que eu achei ser o melhor pra mim. Eu sou expressão maravilhosa do que Deus sonhou, essa decisão não foi só por mim, não foi só uma mudança capilar, foi uma mudança de postura, foi minha contribuição para as crespas que vão nascer ou para aquelas que um dia possam pensar em se libertar. Sempre nos foi dito que não poderíamos ser do jeito que a gente nasceu, nunca foi uma escolha nossa, nós quase nunca representamos o belo, é preciso mudar isso..

Fim da transição, fiz meu big chop 28/12/12

As pessoas na minha família estão falando que é muita coragem, mas eu acho tão estranho isso de ter que ser corajoso pra ser quem você realmente é. Crescemos acreditando que é errado ser da maneira que somos e nos adaptamos a isso, alguns de nós nunca vai conseguir mudar essa mentalidade. O meu desejo é que quem conseguiu levante essa bandeira e dê ao mundo o seu recado.




quinta-feira, 5 de julho de 2012

Tão blasé...


Com seu café na mão
No starbucks, foto pro instagram
Com seu xadrez popularizado
Lá vai mais um hipster
Um blasé forçado
Tenta ser preto e branco
Finge de invisível pra se destacar
Ele até gosta de música
Mas tem que ser música que você nunca ouviu falar
Lá vai o blasé, café na mão
De boina na cabeça
Um clique para o chão
Mas no instagram, faz edição
E tudo vira poesia...

Por: @bruna_depaulla

terça-feira, 27 de março de 2012

Tomates e a grande diferença entre opinião e discriminação

Eu não gosto de tomate. Desculpas a todos aqueles que apreciam esse fruto, mas eu não gosto. O sabor não me agrada, a consistência me deixa enjoado. Convivo bem com pessoas que gostam de tomate, entendendo que pessoas são diferentes e tem gostos diversos.
             Bem, eu tenho a opinião de que tomates não são alimentos gostosos. É algo que serve para mim, para meu paladar.
              Agora você imagine que, num determinado momento, eu passe a acreditar que não é bom para ninguém comer tomates. Posso inclusive fazer uma pesquisa para achar alguma substância no tomate que faz mal para algo em nosso corpo e usar isso como argumento. Mesmo que essa tal substância tenha que ser ingerida em doses cavalares por dia para causar algum mal em longo prazo, que esse efeito não seja o mesmo devido ao metabolismo de cada um e mesmo assim sem base concreta para essa afirmação. O fato, para mim, é: tomates não são bons.



            E não somente passo a achar isso, mas passo a pregar minha opinião, inclusive recriminando e discriminando pessoas que insistem em comer tomates. Se mesmo após todas as evidências (ainda que duvidosas) que eu apresentei, a pessoa permanece comendo tomates, ela vai merecer o câncer no pâncreas (esqueci de dizer que esse é o efeito da ingestão de tomates apontado na minha pesquisa). Eu passo a desejar que eles tenham câncer para, quem sabe, bater arrependimento e deixarem de comer tomates. Essas pessoas passam a ser uma má influência! Elas estarão estimulando pessoas a comerem tomates. Elas devem ser, então, exterminadas.
            Eu então proíbo que se tenha qualquer material que fale sobre tomates nas escolas. Proíbo pessoas que comem tomates de se casarem, pois essa união gerará uma nova geração de pessoas que comem tomates, mesmo que nada prove que essa influencia pode acontecer, seja genética ou psicológica. Acredito que se deva baixar o porrete nessa gente, pois é óbvio que elas só comem tomate para ir contra ao que é certo! Não me importo que elas sejam expulsas de casa, da escola, que não consigam colocação no trabalho, ou mesmo que sejam mortas em ataques motivados por discriminação. Elas pediram isso. Quando elas lutam pelos seus direitos eu as ataco, e acredito que estou sendo vítima de preconceito por apenas querer expor minha opinião! Desenvolvo curas para que deixem de comer tomates, para que sejam normais como eu. E quero fazer isso livremente, pois estamos em um país livre onde todos tem liberdade de expressão. Não me importa que meu discurso possa vir a trazer ainda mais mortes, sofrimento, discriminação. O direito a opinião é sagrado.

            Acordando dessa viagem, alguém notou alguma similaridade com algo que vivemos? Então, para esclarecer: opinião foi até o ponto onde eu disse que tomates não servem para o meu paladar. Depois disso, passou a ser discriminação. E é dever do Estado, segundo a constituição, garantir a igualdade aos cidadãos e o combate a qualquer forma de discriminação.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Por Daniel Vieira